Contexto
Países da América Central e do Sul estão enfrentando um fluxo sem precedentes de refugiados e migrantes. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR, 2019) cerca de 7 milhões de venezuelanos e meio milhão de migrantes de El Salvador, Guatemala e Honduras fogem para países vizinhos desde 2015 . Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública (2019), até 2018, mais de 400 mil venezuelanos haviam solicitado refúgio no Brasil, sendo que grande parte dessas solicitações foram feitas somente no ano de 2018.
A migração funciona como determinante da condição de saúde precária dessas populações. O processo migratório representa consequências imediatas nos Sistemas de Saúde dos países receptores, e, também, revela efeitos intergeracionais e de longo prazo no desenvolvimento social e no bem-estar dos migrantes, em particular das mulheres.
As mulheres representam cerca de 50% da migração venezuelana para o Brasil. Mulheres, sobretudo adolescentes, são especialmente vulneráveis em deslocamentos prolongados enfrentando sérios desafios à saúde: riscos de estupro, tráfico de pessoas, agressão sexual, abuso e outras ameaças relacionadas à pobreza, violência sexual, estigma, discriminação, idioma, diferenças culturais, e acesso inadequado a serviços de atendimento nos locais de fronteira, em trânsito e em assentamentos. Tudo isso, exacerba os riscos para a saúde reprodutiva e sexual dessa população e limita ainda mais suas perspectivas de bem-estar e desenvolvimento, já comprometidas devido à pobreza e a misoginia em seu país de origem.
O projeto Redressing Gendered Health Inequalities of Displaced Women and Girls in contexts of Protracted Crisis in Central and South America (ReGHID) desenvolveu estudos para lidar com a questão das desigualdades de gênero em relação ao deslocamento prolongado.